Logo que comecei a visitar uma praia aqui do sul, conheci um assíduo freqüentador de lá. Nunca havia feito amizade tão rápido em um tempo tão curto como foram as últimas férias de verão. Outra coisa que também colaborou para esse afeto imediato foi que os veranistas das outras praias eram muito arrogantes, grossos. Além disso, esse novo confidente nem ao menos era veranista; aquela praia do sul era sua morada, nasceu lá. Dizia que era filho das rochas e que fora trazido pelo mar; e também garantia que só sairia de lá para fazer uma visita a algum amigo distante, e iria apenas se este o levasse. Depois voltaria para o seu lar com o vento, o vento que sopra para o mar.
Ao acordar, depois de tomar meu café, ía até a praia sentir a manhã e respirar o início do dia, mas eu sempre me atrasava, meu amigo já estava lá. Muitas vezes, tinha madrugado na praia; outras, tinha acompanhado a direção do vento para voltar, se a brisa da noite o tivesse levado para outro rumo. Era só eu armar o guarda-sol e sentar na minha cadeira de tecido xadrez que ele já vinha me dizer que queria dar uma caminhada, e me fazia rir falando que iria até onde eu quisesse, agüentasse ou decidisse voltar. E lá íamos nós, andar no sentido que o vento ordenasse.
Quando voltava para casa, ele só largava do meu pé quando eu fosse tomar banho para tirar o sal do corpo.
Mas eu nunca soube seu nome. E quando o verão terminava, perdíamos contato. Porém, um pedacinho dele sempre ficava no tecido do maiô, nas toalhas de praia, entre os dedos dos pés e na minha pele quando me dava o abraço de despedida.
Só tornávamos a conversar um ano depois, no próximo verão. E então ele contava a tamanha saudade que sentia de mim e quanto eu fazia falta:
- Sem você aqui, sou como poeira ao vento...
- Como assim?
- Porque meu nome é grão de areia, seu amigo de verão.
Ana Carolina Gilgen
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
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