segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Virtualizar a vida?

Por quanto tempo almejamos uma vida mais prática e livre? Quantas vezes desejamos que acontecesse um desastre para nos livrarmos dos almoços de família aos domingos? Conquistamos tudo o que queríamos, depois do atraso de mil anos que "Deus" nos causou com a Santa Inquisição, finalmente a ciência desponta. E não mais precisamos de um motivo para não ir à Igreja agradecer por essa "libertação".
No entanto, esquecemos de tudo, que algum dia, precisamos. Temos sonhos supérfluos, queremos um lindo carro e um bom computador, a necessidade de conhecer o mundo vive nas nossas entranhas quando nem mesmo conhecemos nossos próprios pais ou a nossa casa, que nem chamamos mais de "lar".
Precisamos de um motivo para respeitar nossa família. Esquecemos de agradecer ou pedir com educação. O mundo nos fez cruéis, dissimulados. Ou, infelizmente, pode-se dizer que não há nada de errado com o planeta, ele só é muito mal freqüentado - segundo Conrad, o eterno ex-marinheiro.
Devemos ser os melhores, esquecer os outros, virtualizar a vida! Álbuns de família, de casamento, do bebê... não existem mais. As fotografias foram calcificadas em bytes, megabytes, gigabytes (!!!) de uma memória facilmente apagável apenas com um "yes", junto com nossos relacionamentos, que agora estão todos atrás de uma tela de vidro e não mais podem ser tocados ou intensamente vividos.
Desejamos ter mais tempo, mas tudo o que ganhamos é um dia distribuído numa agenda, redistribuído. Tudo deve ser provado, calculado, revisado e remarcado:
- Vamos nos encontrar qualquer dia desses, hein?
- Combinamos.
Mas esse encontro só se concretiza em um funeral, no seu ou no de algum colega em comum. Reuniões familiares então, apenas entre lágrimas.
Morre-se de obesidade, dor-de-cotovelo e mente vazia, mas não se morre de amor ou saudade, já que essa matamos com um e-mail preguiçosamente digitado. Mastigamos sem sentir o gosto, nos vestimos para os outros e vamos vegetando internamente a cada passo turbulento, inseguro... calado... agendado.

Ana Carolina Gilgen