terça-feira, 25 de novembro de 2008

É o carnaval, minha gente!

Ninguém nunca ouve falar sobre Direitos Humanos. Mas basta um pequeno crime ocorrer ou um menor de idade ser preso... que o amor materno ou o altruísmo das ONG’s ressuscita os velhos direitos humanos; já mofados e empoeirados numa prateleira qualquer.
O modo como esses direitos são usados é tão irônico quanto a conveniência com que as leis são utilizadas. Criadas! Camufladas! Imaculadas! Basta um político influente ser condenado – o que, diga-se de passagem, é muito raro - que acha-se uma lei que garante seu direito de não ser algemado.
O mesmo acontece com os Direitos Humanos, nunca se lembram de condenar o acusado. A mídia também resolve criar uma opinião na cabeça de todos, os grandes “escândalos” passam a ter milhares de “adeptos” e, incrivelmente, todos tem a mesma visão piedosa. E, segundo o mesmo princípio, a defesa existe por todos os lados... a balança da Justiça não passa de um utensílio enferrujado e capenga. Como pregava Mahatma Gandhi: advogados devem defender a verdade, pois esse é o papel da Justiça. Talvez por isso não o considerassem um bom advogado... Pois hoje, com a falta de paladar em relação a princípios morais, ganha quem pagar mais ou até... quem somar mais crimes, só pra haver mais um carnaval no ano, afinal, somos um país carnavalesco.


Ana Carolina Gilgen

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Virtualizar a vida?

Por quanto tempo almejamos uma vida mais prática e livre? Quantas vezes desejamos que acontecesse um desastre para nos livrarmos dos almoços de família aos domingos? Conquistamos tudo o que queríamos, depois do atraso de mil anos que "Deus" nos causou com a Santa Inquisição, finalmente a ciência desponta. E não mais precisamos de um motivo para não ir à Igreja agradecer por essa "libertação".
No entanto, esquecemos de tudo, que algum dia, precisamos. Temos sonhos supérfluos, queremos um lindo carro e um bom computador, a necessidade de conhecer o mundo vive nas nossas entranhas quando nem mesmo conhecemos nossos próprios pais ou a nossa casa, que nem chamamos mais de "lar".
Precisamos de um motivo para respeitar nossa família. Esquecemos de agradecer ou pedir com educação. O mundo nos fez cruéis, dissimulados. Ou, infelizmente, pode-se dizer que não há nada de errado com o planeta, ele só é muito mal freqüentado - segundo Conrad, o eterno ex-marinheiro.
Devemos ser os melhores, esquecer os outros, virtualizar a vida! Álbuns de família, de casamento, do bebê... não existem mais. As fotografias foram calcificadas em bytes, megabytes, gigabytes (!!!) de uma memória facilmente apagável apenas com um "yes", junto com nossos relacionamentos, que agora estão todos atrás de uma tela de vidro e não mais podem ser tocados ou intensamente vividos.
Desejamos ter mais tempo, mas tudo o que ganhamos é um dia distribuído numa agenda, redistribuído. Tudo deve ser provado, calculado, revisado e remarcado:
- Vamos nos encontrar qualquer dia desses, hein?
- Combinamos.
Mas esse encontro só se concretiza em um funeral, no seu ou no de algum colega em comum. Reuniões familiares então, apenas entre lágrimas.
Morre-se de obesidade, dor-de-cotovelo e mente vazia, mas não se morre de amor ou saudade, já que essa matamos com um e-mail preguiçosamente digitado. Mastigamos sem sentir o gosto, nos vestimos para os outros e vamos vegetando internamente a cada passo turbulento, inseguro... calado... agendado.

Ana Carolina Gilgen

domingo, 13 de abril de 2008

Neoliberalismo

O Brasil é considerado uma nação emergente. Há alguns anos, nosso país vem crescendo e trazendo cada vez mais pessoas para a classe média às custas de nós, trabalhadores honestos que largamos dias de lazer para fazer hora extra e quitar nossas dívidas com esse governo medíocre.
Os planos do nosso governo era aumentar a renda das pessoas da classe baixa e trazê-las para a classe média; mas para isso precisaríamos de investimentos pesados na área da educação, empregos que exigissem uma escolaridade, ao menos, média (vulgo: meia-boca) e outros planos que levassem a uma diminuição da classe baixa. Porém, o que vemos é o povo sendo tratado como incapaz, ganhando sua esmola mensal; escola de má qualidade, comida grátis, gás e todas essas coisas que nós compramos com nosso tão suado dinheiro. Isso leva à acomodação, deixa o povo brasileiro com a fama de preguiçoso e tapado cada vez maior. Para o governo, isso é ótimo, ter o povo ali, garantindo seu voto para eles e fechando os olhos para as barbaridades que vemos todos os dias nos noticiários. Deixa o povo desacreditado de sua habilidade de melhorar a vida pelo próprio esforço.
Por isso, devemos pensar e acreditar no neoliberalismo que prega o mínimo de intervenção do governo na situação dos cidadãos. Obviamente, o Brasil não está preparado totalmente para isso, mas não podemos também viver para que apenas os outros - e somente os outros - melhorem de vida. Tudo o que é privado é de melhor qualidade; se você quer ter qualidade de ensino, procure a melhor escola. As melhores taxas, procure o melhor banco... Esses são os princípios do capitalismo e o neoliberalismo os reforça. Além de que, se fosse implantado aqui, estaríamos pagando menos impostos e procurando melhores serviços, o povo não ganharia fama de tapado e você não estaria fazendo hora extra...


Ana Carolina Gilgen

sábado, 15 de março de 2008

Bisbilhotemos!

Alienem-se! Vamos! Atenção na casa mais vigiada do Brasil! Seus heróis não estão lá dentro, estão? Assistam a esse grande show. Se possível, deixem de sair com os amigos, participar das reuniões familiares e esqueça a festa de aniversário que você foi convidado na última terça-feira, assim você não perderá nem sequer um episódio do maravilhoso reality show. É importante também você nem se incomodar com o que está acontecendo no país, nem com cartões corporativos, e CPIs de todos os milhares de tipos que vem surgindo, importem-se somente, exclusivamente, com quem sairá no próximo paredão.
Acreditem que a emissora fez esse programa pensando especialmente no crescimento intelectual e crítico dos telespectadores. E quando seus “heróis” saírem do conto de fadas, com milhões de reais e prêmios, espero que isso realmente melhore as suas vidas. Enquanto isso (se ainda quiser) continue espiando.


Larissa C. Maciel

quarta-feira, 12 de março de 2008

Scarpin Vermelho

Apenas uma facada, e certeira, exatamente na jugular. Furei-lhe os olhos também, com um scarpin vermelho, para completar o serviço. Creio que não foi o bastante para o tamanho da minha fúria. Deveria tê-lo congelado e depois quebrado em pedacinhos e usado como adubo no meu pomar de abóboras.
Depois que ele me traiu, quando o peguei no ato, no sofá azul-bebê da sala, decidi que apenas fecharia a porta calmamente e diria para mim mesma que faria ele sofrer tanto que desejaria não ter comprado aquele sofá.
Então, quando três dias depois ele estava no trabalho, peguei seu carro e o bati num muro qualquer, ficou tão amassado que mais parecia um polígono de metal. Sumi com todas as suas roupas, até meias e cuecas. Tirei os móveis da casa e os deixei na casa de minha mãe. Enrolei-a, dizendo que tínhamos comprado nossa casa e iríamos morar juntos. Portanto, os móveis ficariam na casa dela provisoriamente.
A única coisa que sobrou, além da pia do banheiro... ainda na sala e no mesmo lugar, foi o sofá azul-bebê em que meu ex me flagrou nas mesmas circunstâncias que as dele, com o vendedor da Killer's, a loja de sapatos em que comprei o scarpin vermelho. Pasmo, meu ex ficou parado à porta olhando a cena, apenas me despedi do vendedor, que aliás nem sabia o nome, levantei-me, peguei o scarpin e meti nos olhos do traidor parado à porta. O golpe foi tão rápido que ele não pôde sequer imaginar. Logo, peguei a faca de pão e enfiei no seu pescoço, cortando sua jugular.
Um crime tão bem planejado, obviamente terminaria em fuga. Não há testemunhas, mas há suspeitos. E aqui estou eu escondida numa cabana qualquer no meio do mato. Sem contato com a família, com ninguém. Lamentando meu arrependimento, convivendo com alucinações e sonhando com o scarpin vermelho furando olhos por aí.
Eu sinto a dor por ele, agora percebo o quanto fui ridícula, pois meu motivos foram mínimos para tal feito. Penso o que farei quando me descobrirem, minha mente não me deixa em paz, barulhos me perturbam... Bastava apenas ter pago na mesma moeda, mas não, sempre fui assim... deixo as coisas piores, acabei com a vida dele, acabei com seus olhos e com sua vida, literalmente. Nem houve tempo para ele sentir a mesma sensação que eu ao se ver traído, já em seguida sentiu a dor da morte.
Nunca estive tão confusa, a traição nos leva a loucuras, se eu estivesse com a cabeça no lugar, nunca teria feito isso, essa não sou eu... a partir daquele dia nunca mais soube se essa sou eu de verdade.
Enquanto isso, vou mofar numa cabana, ainda sentindo o cheiro das lágrimas e do sangue de seus olhos no salto quinze do meu scarpin vermelho.

Ana Carolina Gilgen

sábado, 23 de fevereiro de 2008

De Porcelana

Passava todos os dias, quando voltava da escola, pela frente de uma loja de porcelanas. Duas grandes vitrinas chamavam-me a apreciar o que nelas estava exposto. Era jovem ainda e muito amolado pelos meus colegas de classe por gostar dessas coisas sutis demais para um garoto de minha idade e influências.
Depois da aula, ficava esperando os outros alunos irem embora para depois ir andando com calma até chegar na frente da loja e sentar-me na calçada ficando horas a fio degustando a delicadeza que meus olhos não deixavam passar despercebida.
Certo dia, ao invés de olhar os pratos, acabei enxergando uma linda boneca ao fundo da loja; pele branca, olhos castanhos, bochechas rosadas, cabelos claros; quase brancos, longos e encaracolados. Estava trajada com um gracioso vestido xadrez. Nunca algo assim havia tocado meu coração com tamanha intensidade. Lembrava-me de tê-la visto já outras vezes, mas naquele dia estava excepcionalmente marcante. Quis tomar coragem para vê-la mais de perto. Porém, era humilde demais para algo tão esplendoroso. Uma boneca como aquela não merecia apenas minha simples e talvez recusável companhia. No entanto, ela parecia sorrir para mim. Minhas bochechas chegaram a avermelhar.
Sempre que passava por lá, ela estava sobre uma cadeira de balanço e com agulhas de tricô nas mãos, mas sempre com um vestido diferente. Talvez ela até nem estivesse à venda. Como poderia uma boneca tão amável estar naquela loja há meses sem ninguém ter perguntado o seu preço? Talvez porque, mesmo sendo mui bonita, ela estivesse empoeirada. Nem sempre a senhora que tomava conta da loja levava um lenço para limpar-lhe o rosto. A rua da loja era de chão batido.
Não contei sobre ela para ninguém. Senão, algum outro garoto poderia querer-lhe. Afinal, deixava as meninas do colégio no chinelo.
Resolvi economizar para comprar uma roupa mais bonita e - quem sabe? - assim, fazer-me mais digno a fim de entrar na loja e saber o preço da meninota. Entrei e fui em direção a ela:
- Por quanto posso te comprar?
- Com dinheiro, não pode - e sorriu.
Em breve, tentaria outra vez. Minha aparência ainda não era satisfatória. Na próxima, iria de chapéu para parecer mais velho:
- E agora, posso te comprar?
- Ainda não.
Vai ver, ela prefere que eu seja simples:
- E agora, posso?
- Você tem como fazê-lo?
- Não.
- Então, roube-me. Já estou tempo demais aqui. - e sorriu.
Sabia que era errado. Mas ela me pediu. E sorriu para mim. Não pude me conter, meus olhos brilhavam. Fitei-a e a roubei; mas não por inteiro. Roubei apenas o seu olhar.

Ana Carolina Gilgen

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Oposto

- Tenho o visto quase em todos os lugares, no meu escritório, nas vitrines, nos prédios, pontos de ônibus, às vezes até na televisão. Não interessa se estou indo ao mercado, parque, ou ao teatro; tenho esbarrado nele toda vez que o vejo, parece até perseguição, sabe que às vezes eu me incomodo. São raras as vezes em que fico sozinho e quando fico, sinto falta. Não uma falta propriamente dita, nem poderia também, nunca trocamos sequer uma única palavra. É como se eu sentisse saudades de alguém que eu nem conheço. Têm dias que ele me parece fosco, um tanto distorcido. E quantas vezes já o vi chorar, tanto que chegara a molhar as suas roupas e nem assim tive coragem de perguntar o que havia acontecido. Mas de uns dias para cá ele tem tentado me imitar e sabe que ele tem acertado; nas combinações das roupas, cachecóis, e quando saio de chapéu, e olha que são raras as ocasiões, mas o cabelo.. sempre está ao inverso do meu. Nessa última quinta quando o céu estava com cara de que ia chover; como de rotina, esbarrei nele, estava chorando e foi aí que eu percebi que os meus olhos e minhas roupas também estavam molhados...

Doutor, como pode duas pessoas que nem se conhecem serem tão ligadas?
- Talvez porque sejam a mesma pessoa.

Larissa C. Maciel

Confidente de Verão

Logo que comecei a visitar uma praia aqui do sul, conheci um assíduo freqüentador de lá. Nunca havia feito amizade tão rápido em um tempo tão curto como foram as últimas férias de verão. Outra coisa que também colaborou para esse afeto imediato foi que os veranistas das outras praias eram muito arrogantes, grossos. Além disso, esse novo confidente nem ao menos era veranista; aquela praia do sul era sua morada, nasceu lá. Dizia que era filho das rochas e que fora trazido pelo mar; e também garantia que só sairia de lá para fazer uma visita a algum amigo distante, e iria apenas se este o levasse. Depois voltaria para o seu lar com o vento, o vento que sopra para o mar.
Ao acordar, depois de tomar meu café, ía até a praia sentir a manhã e respirar o início do dia, mas eu sempre me atrasava, meu amigo já estava lá. Muitas vezes, tinha madrugado na praia; outras, tinha acompanhado a direção do vento para voltar, se a brisa da noite o tivesse levado para outro rumo. Era só eu armar o guarda-sol e sentar na minha cadeira de tecido xadrez que ele já vinha me dizer que queria dar uma caminhada, e me fazia rir falando que iria até onde eu quisesse, agüentasse ou decidisse voltar. E lá íamos nós, andar no sentido que o vento ordenasse.
Quando voltava para casa, ele só largava do meu pé quando eu fosse tomar banho para tirar o sal do corpo.
Mas eu nunca soube seu nome. E quando o verão terminava, perdíamos contato. Porém, um pedacinho dele sempre ficava no tecido do maiô, nas toalhas de praia, entre os dedos dos pés e na minha pele quando me dava o abraço de despedida.
Só tornávamos a conversar um ano depois, no próximo verão. E então ele contava a tamanha saudade que sentia de mim e quanto eu fazia falta:
- Sem você aqui, sou como poeira ao vento...
- Como assim?
- Porque meu nome é grão de areia, seu amigo de verão.


Ana Carolina Gilgen

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Manchete

Vista seu hobby, tome seu café; é hora do Cabriolé Matinal!