sábado, 12 de dezembro de 2009
E choveu, molhou meus óculos
Moléculas de água caem do céu, as pessoas desviam seus guarda-chuvas uma das outras, correm de um lugar livre da água para outro, cobrem-se com jornais - que deveriam ser lidos. O cabelo úmido, o cenário retratando inverno, seu cachecol, seu sobretudo, os óculos respingados e a sombrinha xadrez. Tão encantador quanto o dia que o conheci, mas de mangas compridas.
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Primavera sem Cigarros
Começo um dia chuvoso, na virada de estação, sem cigarros, sem sequer pensar em pegar o isqueiro. Mudo minha mente na terça, no meio da semana, como nunca fiz antes. Programo meu dia, não me canso, a chuva não me incomoda mais, bebo o meu café. Fumo no pensamento, mas fumo flores, fumo boas idéias, boas energias. E a outra pessoa dentro de você? Se mistura com pedras coloridas no cinzeiro.
sábado, 22 de agosto de 2009
Legislação estapafúrdia
Faz dias que bebo o mesmo chá, supersaturado de açúcar. Estouro pipoca, supertemperada com sal. Minha diabetes empata minha hipertensão, e ainda completo a cota com um pouco de fumaça e pensamentos do subsolo, que não pertence a mim, mas ao governo.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Auto-droga sentimental ilícita
A cabeça fervilha de idéias, numa velocidade a ponto de se desintegrar. Por que é tão ruim estar aqui? Por que não lhe cabe a idéia de chegar ao objetivo primário? A felicidade relativa, dependerá disso a longo prazo. Trago. Cérebro cinza, cor que se acentua, pela fumaça enviada a todos os pontos do corpo.
Fumaça da sua cabeça quente, dessa enxurrada de idéias. Levo.
Talvez não seja tão desagradável estar aqui, mas outra consciência na sua cabeça, que te faz não aceitar o que é, ou o que deveria ser... chegamos ao ponto em que o questionamento nos saturou tanto, que pergunto e não me respondo mais.
Unhas roídas, interior roído. Eu sou meu próprio cupim, construindo minha morada com a porta principal voltada a oeste, ao pôr-do-sol.
Posso ter o controle de tudo! Mas me falta, falta o auto-controle. E nego que talvez não goste de ver o sol todas as manhãs, dormir enquanto todos estão de pé, evitar análises, fugir de cobranças, não te responder. Apenas conversar comigo e fortalecer essa pessoa que toma conta de mim, ser um morcego, inútil e cego.
E quando eles não estiverem mais aqui? A sopa de feijão não terá mais o mesmo gosto, as toalhas não terão mais o mesmo cheiro. Meus sentidos me enganam, não adianta guardar apenas na lembrança, se você nunca aproveitou enquanto tudo existiu. De que me serve uma casa fria? Para que as aranhas dancem mais uma canção lenta em suas teias.
Fumaça da sua cabeça quente, dessa enxurrada de idéias. Levo.
Talvez não seja tão desagradável estar aqui, mas outra consciência na sua cabeça, que te faz não aceitar o que é, ou o que deveria ser... chegamos ao ponto em que o questionamento nos saturou tanto, que pergunto e não me respondo mais.
Unhas roídas, interior roído. Eu sou meu próprio cupim, construindo minha morada com a porta principal voltada a oeste, ao pôr-do-sol.
Posso ter o controle de tudo! Mas me falta, falta o auto-controle. E nego que talvez não goste de ver o sol todas as manhãs, dormir enquanto todos estão de pé, evitar análises, fugir de cobranças, não te responder. Apenas conversar comigo e fortalecer essa pessoa que toma conta de mim, ser um morcego, inútil e cego.
E quando eles não estiverem mais aqui? A sopa de feijão não terá mais o mesmo gosto, as toalhas não terão mais o mesmo cheiro. Meus sentidos me enganam, não adianta guardar apenas na lembrança, se você nunca aproveitou enquanto tudo existiu. De que me serve uma casa fria? Para que as aranhas dancem mais uma canção lenta em suas teias.
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Vórtice da Perspectiva Total no Aprés Vie
Realmente, não se pode ter uma rotina quando suas preocupações se dirigem a diversos assuntos, ou até pessoas, opiniões; que no fim de um dia, cronologicamente mal aproveitado, divergem. Exigência mútua, exigência esta que deveria desaparecer, sabemos que não devemos nada um para o outro. Mas, na verdade, o problema é este, acostumar-se; a única coisa de que tenho certeza é da necessidade de escovar os dentes depois das refeições, mas me acostumei a escová-los só quando os sinto sujos. Minha única certeza derrubada pelo que sinto, pelo que sinto erroneamente.
Já percebeu que termino cada frase como se fosse um sobrenome? Bond, James Bond. Começo pelo fim; talvez sempre desejasse viver algo no qual fosse protagonista do fim, ou viver várias vidas, mas fazendo um papel secundário em todas elas; quem sabe, até nos bastidores - o melhor trabalho pode ser varrer as cinzas do fim.
Tudo passa, tudo é adicionado, mas não o necessário. Sempre o necessário, o coerente, o estupidamente organizado e catalogado, pra facilitar a procura dos itens. Depois de um tempo você acaba percebendo, todas as estradas são de mão única, todas elas, não importa que as ruas sejam mais largas em outro estado, voltar é sempre difícil.
É, parei pra pensar, parece que tento viver de bilhões de jeitos diferentes, só pra escrever sobre como é ruim se sentir confuso depois de dividir em um inventário todos as suas opiniões, experiências, sabedorias, receitas de pudim, vontades e, ao olhar para o árduo trabalho de organização, sentindo-se orgulhoso pelo tempo bem empregado e respirar fundo já imaginando sua cabeça enterrada no travesseiro, perceber que esqueceu de colar as etiquetas nas seções do inventário, então, começa a confundir sentimentos com receitas de salgado de forno. E, pode apostar, encaixar os fatos em datas, os acontecimentos em categorias, é custoso, e até surpreendente, ainda mais quando se esquece de colar as etiquetas. Provavelmente seria melhor colocar códigos de barra e fingir que está tudo organizado. Sempre me mandavam conferir a nota fiscal das compras no mercado, é, o erro estava no código de barras. Ninguém nem nada coloca as coisas no lugar certo, sempre há um erro de percepção, de opinião, um turbilhão [?]. Só pra não perder a oportunidade de rimar, agora é só isso que tenho.
Então, você dorme, com os cabelos ainda molhados. E acorda. E se conforma, não há como não acordar amarrotado, como todas as minhas roupas, úmidas, manchadas, manchadas com o vinho que eu tentei entender. Com as palavras que eu tentei beber uma poesia, mas em um gole enorme, não beberia tantas palavras, escorrem sílabas desarrumadas pelo queixo e penetram no tecido de algodão da camisa. Manchas de palavras não saem assim tão fácil. E lembro de tudo em relação a mim, desde o final.
Por que sempre começar tudo como se já tivesse sido iniciado? Conjunções, reticências. É quando a vontade de escrever aparece, e a caneta some.
Devo transformar isso num poema? Talvez soasse melhor, mas talvez, é só uma probabilidade, provável, improvável. Não sabemos o que nos espera, ou o que já passou, tudo é tão turvo que nem o maior dos esclarecimentos desencobre os fatos da neblina.
Tudo é tão confuso ou claro, que a indefinição parece primordial. O isqueiro está no bolso, e o cigarro sustentado pelos lábios é aceso, pelo lado errado. E se eu passei toda a minha vida acendendo o cigarro pela ponta errada? É como se não me importasse em morrer e não ter quem culpar. Pego outro cigarro, e já em brasa, pende no canto esquerdo da boca, a fumaça sai lentamente pelas narinas. Vou morrer e a culpa será minha. Tenho tudo o que preciso pra me encaixar no exemplo perfeito, e quando estiver cansado, tirar férias, mas ainda assim a culpa será minha. E quando estiverem chorando sobre mim, nem me darei conta que tudo passou e ninguém me ajudou a acender o cigarro pela ponta errada, todos serão otários, suas lágrimas mancham a madeira polida e envernizada daquela caixa inútil, os vermes me roerão da mesma maneira, sem se importar com a madeira nobre. E sentirão o cheiro de fumaça entre meus dedos da mão direita.
Tudo invade a mente, chego a um ápice de felicidade, arcturus, chalise, guaraná, crossfire, sagitário... como num jogo de Tetris, as peças vão se empilhando, mas logo volto à realidade quando lembro que, apesar de tudo, meu tempo não deixa de ser cronológico, mesmo que desgovernado. E no fim, na verdade, a puta sou eu.
Já percebeu que termino cada frase como se fosse um sobrenome? Bond, James Bond. Começo pelo fim; talvez sempre desejasse viver algo no qual fosse protagonista do fim, ou viver várias vidas, mas fazendo um papel secundário em todas elas; quem sabe, até nos bastidores - o melhor trabalho pode ser varrer as cinzas do fim.
Tudo passa, tudo é adicionado, mas não o necessário. Sempre o necessário, o coerente, o estupidamente organizado e catalogado, pra facilitar a procura dos itens. Depois de um tempo você acaba percebendo, todas as estradas são de mão única, todas elas, não importa que as ruas sejam mais largas em outro estado, voltar é sempre difícil.
É, parei pra pensar, parece que tento viver de bilhões de jeitos diferentes, só pra escrever sobre como é ruim se sentir confuso depois de dividir em um inventário todos as suas opiniões, experiências, sabedorias, receitas de pudim, vontades e, ao olhar para o árduo trabalho de organização, sentindo-se orgulhoso pelo tempo bem empregado e respirar fundo já imaginando sua cabeça enterrada no travesseiro, perceber que esqueceu de colar as etiquetas nas seções do inventário, então, começa a confundir sentimentos com receitas de salgado de forno. E, pode apostar, encaixar os fatos em datas, os acontecimentos em categorias, é custoso, e até surpreendente, ainda mais quando se esquece de colar as etiquetas. Provavelmente seria melhor colocar códigos de barra e fingir que está tudo organizado. Sempre me mandavam conferir a nota fiscal das compras no mercado, é, o erro estava no código de barras. Ninguém nem nada coloca as coisas no lugar certo, sempre há um erro de percepção, de opinião, um turbilhão [?]. Só pra não perder a oportunidade de rimar, agora é só isso que tenho.
Então, você dorme, com os cabelos ainda molhados. E acorda. E se conforma, não há como não acordar amarrotado, como todas as minhas roupas, úmidas, manchadas, manchadas com o vinho que eu tentei entender. Com as palavras que eu tentei beber uma poesia, mas em um gole enorme, não beberia tantas palavras, escorrem sílabas desarrumadas pelo queixo e penetram no tecido de algodão da camisa. Manchas de palavras não saem assim tão fácil. E lembro de tudo em relação a mim, desde o final.
Por que sempre começar tudo como se já tivesse sido iniciado? Conjunções, reticências. É quando a vontade de escrever aparece, e a caneta some.
Devo transformar isso num poema? Talvez soasse melhor, mas talvez, é só uma probabilidade, provável, improvável. Não sabemos o que nos espera, ou o que já passou, tudo é tão turvo que nem o maior dos esclarecimentos desencobre os fatos da neblina.
Tudo é tão confuso ou claro, que a indefinição parece primordial. O isqueiro está no bolso, e o cigarro sustentado pelos lábios é aceso, pelo lado errado. E se eu passei toda a minha vida acendendo o cigarro pela ponta errada? É como se não me importasse em morrer e não ter quem culpar. Pego outro cigarro, e já em brasa, pende no canto esquerdo da boca, a fumaça sai lentamente pelas narinas. Vou morrer e a culpa será minha. Tenho tudo o que preciso pra me encaixar no exemplo perfeito, e quando estiver cansado, tirar férias, mas ainda assim a culpa será minha. E quando estiverem chorando sobre mim, nem me darei conta que tudo passou e ninguém me ajudou a acender o cigarro pela ponta errada, todos serão otários, suas lágrimas mancham a madeira polida e envernizada daquela caixa inútil, os vermes me roerão da mesma maneira, sem se importar com a madeira nobre. E sentirão o cheiro de fumaça entre meus dedos da mão direita.
Tudo invade a mente, chego a um ápice de felicidade, arcturus, chalise, guaraná, crossfire, sagitário... como num jogo de Tetris, as peças vão se empilhando, mas logo volto à realidade quando lembro que, apesar de tudo, meu tempo não deixa de ser cronológico, mesmo que desgovernado. E no fim, na verdade, a puta sou eu.
terça-feira, 26 de maio de 2009
Mecatrônica Ilusória
O que importa é só nós agora, desse jeito. Na primeira pessoa do plural. Só que é como um telefone sem fio, as informações são transferidas. Mas se o que importa realmente é o que fica aqui dentro, vale o que me aperta aqui também, a cabeça turbulenta, o fato de saber que você pensa tanta coisa e por isso não as distingue mais, não sabe mais o que paira na sua cabeça, ou o que se transforma dentro dela.
A caneta vai se tornando apagada, como se estivesse negando passar as suas palavras para o papel.
- É que os dias tem sido os mesmos.
- Assim, todos iguais?
- Não, assim, ininterruptos.
- Como um disco de progressivo.
Só porque você pode escolher o que ouvir a cada instante, o reflexo não está no que outros irão sentir, nem sempre é a trilha sonora que faz cada momento, nem todos querem ouvir a sua música e cantá-la com você. Ou você força, força até que brote sintonia em meio a um coro desafinado. Desafinado como as suas cordas vocais, desregulado como as suas engrenagens.
- Que engrenagens?
- Sim, você é um andróide.
A caneta vai se tornando apagada, como se estivesse negando passar as suas palavras para o papel.
- É que os dias tem sido os mesmos.
- Assim, todos iguais?
- Não, assim, ininterruptos.
- Como um disco de progressivo.
Só porque você pode escolher o que ouvir a cada instante, o reflexo não está no que outros irão sentir, nem sempre é a trilha sonora que faz cada momento, nem todos querem ouvir a sua música e cantá-la com você. Ou você força, força até que brote sintonia em meio a um coro desafinado. Desafinado como as suas cordas vocais, desregulado como as suas engrenagens.
- Que engrenagens?
- Sim, você é um andróide.
sábado, 18 de abril de 2009
Friday
Qual é o objetivo disso tudo? Afinal, ninguém reconhece o que se tornou. Pessoas, álcool, canções, cigarros... e reivindicamos, o quê? Um protesto sem objetivos. O sistema nos corrói, vestindo-nos roupas estampadas e nos alimentando com hambúrgueres e inutilidade mental.
Essa projeção de ser gótico, underground, indie, emo, metaleiro... essa divisão tribal. Somos andróginos, somos homens, mulheres, animais - de cérebro fundido, mero analfabeto funcional. Mas nos tornamos iguais e a divisão é dissolvida quando a roda se forma para enviar fumaça aos pulmões.
Ou não.
Alguém senta na calçada e escreve uma poesia, um bêbado recita Leminski, outro dedilha no violão um belo The Doors, o cigarro revesa seu lugar com a gaita, "pare de comer carne" é rabiscado na parede com uma caneta sempre ao bolso, depois, procura-se um isqueiro. Lemos Dostoiévski, bebemos conhaque, cantamos Hendrix, dedilhamos o violão.
E é inútil marcar encontro para sábado de manhã, alternamos a loucura besta e a loucura sóbria. Motivos nós temos, procuramos um modo de expressar essa oposição, fazendo tudo o que desejam que não seja feito.
É a cultura distorcida, contra-cultura, pró-cultura, anti-cultura. Bebemos Hendrix, lemos o violão, cantamos conhaque, dedilhamos Dostoiévski. Pois a ordem não importa, a pretensão é a mesma, a vontade é inversa, a ação é oposta. Ou, como quiser, já disse que não importa. Então, me dê uma abraço, daqueles de se pendurar no pescoço, e me ligue mais tarde.
Essa projeção de ser gótico, underground, indie, emo, metaleiro... essa divisão tribal. Somos andróginos, somos homens, mulheres, animais - de cérebro fundido, mero analfabeto funcional. Mas nos tornamos iguais e a divisão é dissolvida quando a roda se forma para enviar fumaça aos pulmões.
Ou não.
Alguém senta na calçada e escreve uma poesia, um bêbado recita Leminski, outro dedilha no violão um belo The Doors, o cigarro revesa seu lugar com a gaita, "pare de comer carne" é rabiscado na parede com uma caneta sempre ao bolso, depois, procura-se um isqueiro. Lemos Dostoiévski, bebemos conhaque, cantamos Hendrix, dedilhamos o violão.
E é inútil marcar encontro para sábado de manhã, alternamos a loucura besta e a loucura sóbria. Motivos nós temos, procuramos um modo de expressar essa oposição, fazendo tudo o que desejam que não seja feito.
É a cultura distorcida, contra-cultura, pró-cultura, anti-cultura. Bebemos Hendrix, lemos o violão, cantamos conhaque, dedilhamos Dostoiévski. Pois a ordem não importa, a pretensão é a mesma, a vontade é inversa, a ação é oposta. Ou, como quiser, já disse que não importa. Então, me dê uma abraço, daqueles de se pendurar no pescoço, e me ligue mais tarde.
Assinar:
Postagens (Atom)